“O envelhecimento se constitui como um grande paradoxo humano, já que ninguém quer ficar velho, muito menos, morrer. Entretanto, se não morremos, envelhecemos. Assim, o envelhecimento deve ser visto como uma conquista.” (Teixeira, M.B.)

Quando se fala em envelhecimento ativo, a palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a qualidade de vida e a expectativa de uma vida saudável para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados.

Envelhecimento Ativo é participação

Nesta perspectiva, podemos supor que todos os indivíduos que, por acidente ou por incidente, sofreram perdas ou restrições em sua liberdade funcional, estarão em situação comparável à dos idosos, desde que sofrendo semelhantes angústias de ordem psíquica.

Estamos nos referindo a adultos acidentados (física ou cerebralmente), diabéticos precoces, hipertensos, entre outras possibilidades limitadoras que venham a gerar algum tipo de ansiedade ou angústia. Seriam operacionalmente “idosos”.

Tais manifestações psíquicas seriam abordadas de modo semelhante às dos realmente idosos, respeitadas as individualidades, características e recursos psíquicos de cada paciente.

Apesar de pouco conhecida, desde 2.002 existe uma proposta da OMS para Envelhecimento Ativo, tendo como atenção principal a autonomia e a independência funcional do idoso.

A autonomia seria a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente, de acordo com suas próprias regras e preferências. Em outras palavras, esta seria a capacidade individual de decisão e comando sobre as suas ações, definindo e seguindo as próprias regras.

A independência funcional seria a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária, isto é, a capacidade de viver independentemente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros. Em outras palavras, seria a capacidade de realizar algo com os próprios meios.

Como exemplo, a autonomia permite que o idoso assine um cheque. Sua independência estaria representada pela ida ao banco para fazer um depósito.

Portanto, as recomendações da OMS vão no sentido de que manter a autonomia e independência deverá ser compreendido como meta fundamental para todos os idosos. Estão intimamente ligadas à liberdade de escolhas e à qualidade de vida. Ou seja, à medida que um indivíduo envelhece, sua qualidade de vida é fortemente determinada por sua habilidade/capacidade de manter autonomia e independência.

No curso de seu processo de envelhecimento o idoso irá, inevitavelmente, sofrer restrições diversas causadas pelas patologias mais comuns, tipo problemas cardiovasculares, diabetes, câncer, obstruções pulmonares, diminuição da visão e audição, artrites, osteoporose, etc.

Esses males serão acompanhados e tratados pelos profissionais da área médica.

Mas, o que dizer dos sofrimentos psicológicos consequentes desses males? Quem os tratará?

E também, quem tratará das angústias consequentes das restrições e perdas inerentes e inevitáveis no decorrer do processo de envelhecimento, tais como dependência, marginalização social, declínio cognitivo, perda do comando familiar, redução da sexualidade, medos, culpas, contato com a finitude, proximidade com a morte? Todos esses são fatores de grande potencial para a depressão.

Que ramo da Medicina poderia tratar dessas questões? Que medicamentos deveriam ser ministrados para fazer face a esses males?

Nesse delicado momento teríamos, então, que recorrer à Psicologia, já que o estudo científico dos processos mentais e do comportamento do ser humano e as suas interações com o ambiente físico e social são questões a ela inerentes.

Além disso, estaríamos tratando de idosos ou “idosos” e suas especificidades.

Então, se objetivamos um envelhecimento ativo integrado com a saúde mental, teremos que fazer o casamento da Psicologia com a Gerontologia, esta última compreendida como a ciência que se propõe a estudar as particularidades do envelhecimento.

“Gerontologia é o ramo da ciência que se propõe a estudar o processo de envelhecimento em seus aspectos biopsicossociais e os múltiplos problemas que possam envolver o ser humano.” (Beauvoir, S.)

É necessário compreender que o envelhecimento não apenas fecha ciclos, mas também suscita a abertura de novas possibilidades, pois associa experiência de vida com disponibilidade de tempo para si, para familiares e amigos. As limitações e as perdas decorrentes desse processo deverão receber, portanto, um tratamento psicológico adequado de modo a permitir o desenvolvimento de potenciais reprimidos, de tal forma que o idoso se reencontre como ser inserido na sociedade mediante a adoção de novos papéis sociais.

Deste modo, se desejamos alcançar um tratamento psicológico adequado, temos que, necessariamente, pensar em uma abordagem ampliada para cuidar do idoso. Estaríamos nos encontrando, então, com a Psicogerontologia, ciência que traz uma visão ampliada focada na psique do idoso, mas não exclusivamente nela, já que o acompanhamento do aspecto físico também estaria sendo contemplado. O envelhecimento ativo estaria, assim, entrelaçado com a saúde mental.

A Psicogerontologia auxilia o idoso no processo de aceitar limites e perdas, de desapegar-se, de transformar. Desapegar da cor dos cabelos, da visão e da audição perfeitas, desapegar da potência física e sexual, da memória. Deixar partir o passado, aceitar suas próteses, aparelhos, óculos, implantes. Criar, transformar, exercer outros papéis sociais.

Propõe a participação ativa do próprio idoso em seu processo de envelhecimento, de modo a que ele se torne, em maior ou menor grau, sujeito, e não objeto desse processo.

A autopercepção da saúde é importante fator de prevenção a comorbidades e morte. A circunstância de passividade agravará mais e mais a perspectiva de autonomia e independência do idoso, interferindo negativamente em sua qualidade de vida.

Adotando a Psicogerontologia como instrumental para abordagem das características dos processos de envelhecimento – naturais ou acidentais – estaremos promovendo a criação de um novo paradigma, que perceberá os idosos como participantes ativos de uma sociedade com integração de idade, como contribuintes ativos e como beneficiários do desenvolvimento.

Por fim, abraçando a Psicogerontologia teremos preparado o idoso para dizer adeus com um sorriso de quem parte sem angústias.

 

Aurélio d´Avila

Terapeuta Junguiano

Especialista em Gerontologia

CRTH/BA 01196/13